sábado, 30 de novembro de 2013

Devaneios de Amapola


Sinto seu perfume transpondo continentes
cruzando espaço imenso sem medir distancia
orbitando entre Girassóis, estrelas e abismos

Hoje eu acordei sonhando lembranças nossas

onde éramos um alquímico buquê de flores raras
- E eu, Amapola almiscarada fui cheirando as horas entorpecida 
numa ousadia nebulosa de Mandrágora

Flores de Alfazema, Ópiun, Lótus, Lírio, Manacá, Jacinto...

Exótico palpitar de historias findas que ainda sinto
Madressilvas, Hera, Gerânios, Sete-Léguas, Mirra
a se derramarem debruçadas preguiçosas no pergolado,


 e a entrelaçarem  indifrentes seus buliçosos longos
 dedos de Orquídia, no caramanchão hipnótico  
de minha memória Parasita
(Ilusionista)!


quarta-feira, 20 de novembro de 2013

“A Esfinge (ou) A Mulher Indecifrável”



A heroína vai caminhando e vê de longe a esfinge. Ela sabia que a encontraria. Revia mentalmente todos os seus conhecimentos, tudo o que aprendeu e assimilou para esse momento. Chega prostra-se na frente da Esfinge e espera.  Depois de algum tempo percebe que algo está errado. A Esfinge parece “aérea” e distraída... Às vezes a olha de soslaio, mas com um olhar displicente, como se não se desse conta de que ela estava ali, toda “paramentada” na frente dela e naquele calorão de doido.

___Ô!!! Hei!!!

Pachorrentamente, a Esfinge se inclina para a heroína:

__Hã...? É comigo...? _ e olha ao redor.

__Putz... Descabelo-me toda numa viagem “feladaputa”, num calor dos infernos nesse deserto causticante, sem comida, com pouca água, borrando a maquiagem prá isso?... Claro que é contigo!! Com quem mais seria??

__ Sei lá. Não existo só eu no mundo, sabia?  Diz a esfinge com cara de quem “não to nem ai”!

__?!?! ?!?!?! Olhe ao redor!?!?!?!?! Você vê mais alguém?

__ Hummm... É mesmo. Isso anda tão deserto... Você sabe por quê?

__Hã?! Catsu... você é louca?!?! Você é a Esfinge, certo?

__Sim.

__Então...?

__Então o que? Ta com o “miolo mole”, mocinha?

__ A pergunta!!!!!!

__Que pergunta meu bem?!?!

Nossa heroína joga sua espada e escudo ao chão aos pés do colosso em total desespero. Olha incrédula para a figura enorme a sua frente tentando decifrar o que seu olhar quer dizer. No que, a bendita Esfinge, só faz devolver o olhar na maior languidez como se diante dela existisse apenas um belo sorvete de casquinha de pistache.

Sem saber mais o que fazer nossa destemida aventureira se joga no chão de costas, fica contemplando o céu azul, sentindo o calor quase insuportável da areia esquentar sua armadura. É quase um autoflagelo para recuperar o controle. Depois de certo tempo, ela ouve:

__Cuidado...

Com as esperanças renovadas ela levanta de um só pulo, pega o escudo se arma com a espada, conserta a coluna e espera a continuação e, de boca aberta ela ouve:

__Essa areia é muito quente...  Você pode ter insolação, adquirir facilmente um câncer de pele e comprometer este seu tão sexy visual, querida! Bobagem estragar rostinho tão... Hummm... Tentador...

Estupefata ela continua na mesma posição, sem saber como reagir.

Começa a achar que está louca e que aquilo era uma miragem lisérgica.  Esfrega freneticamente os olhos tentando apagar a visão, mas, obviamente não consegue. A Esfinge toda solícita, oferece:

__É cisco? Quer que eu sopre? Que pena... Você borrou seu rímel...

__Não!!! Quero a pergunta!!! A pergunta!!!

__Ih... Lá vem você linda, com esta história de pergunta de novo... Aliás, o que veio fazer aqui sozinha, nesse deserto, neste calor de crematório... O que vc quer?!?!?

__Passar!!! Eu quero passar!!!

__Ah, passar “não pode”!!! Diz a esfinge meneando languidamente a poderosa cabeçorra.

__Então!!! É isso que estou dizendo!!! Quero passar e você tem de fazer a pergunta!!!

__Tenho?? Qual??

__ “Decifra-me ou te devoro”!  Essa pergunta!!

__Nunca ouvi antes... E se você decifrar-me? O que acontece?

__Ai meu Jesus Cristinho com o carneirinho nas costas... Bem que mamãe falou pra eu ser vigarista, larápia, gatuna... Mas não, tinha de me meter a ser heroína... Uma amazona destemida... Aiii...  Se eu decifrar, eu passo, entende?!

__Hum... É... Parece divertido... Parece justo... Tá bom.

__Então???

__Então o que?

__A PERGUNTA!!!!!!

__Mas você não já sabe a resposta? Tem que perguntar? Esses humanos e, principalmente essas “mocinhas andrógenas”... Tá bom, lá vai: “Decifra-me ou te devoro!”

Silêncio. Nossa heroína, empolgadíssima aguarda a segunda parte da pergunta. Aquela que selará o seu destino. A glória da morte ou a alegria da vitória, o coração pulsava, ela suava, tremia não de medo, mas de emoção. E esperou... Um minuto... Dois minutos... Foi ficando impaciente:

__Cadê?!

__Aiiii! Com mil escaravelhos, menina!... Cadê o que agora?

__O resto da pergunta. O Enigma!!!

__Resto? Ora... Não tem resto... É isso. Decifra-me ou te devoro. Gostei... Simples e objetivo.  É só.

Abismada, ela olha no fundo do olho da Esfinge na esperança de entender o que aquilo queria dizer, de poder penetrar em sua rebuscada mente e compreender o que se passava por lá. O que ela queria dizer com aquilo.

__Nãooo!  Tá errado! Tem de ter outra pergunta. Assim não dá!

__Assim não dá? Assim você não me decifra?

__Não.

__Hummm...

Novo silêncio.

__Então tá. Foi sua idéia. Corre.

__O que?!?!?!

__Corre. Você não me decifrou. Corre.

__Mas... Você não perguntou...

__Perguntei, você me olhou o quanto quis, tanto que até quase me apaixonei na mira desse seu olhar modelo Cleópatra e, não conseguiu me decifrar. Corre.

__Mas assim você é indecifrável! Tem que falar algo...

__Bom, sempre me disseram que não sou muito de falar. Corre.

__Mas...

Paft, pou, nhac, burp, teim, teim... Burp!!!

__Mandei correr...


(Monólogo da Esfinge)


...Humm... Tô sentindo um arrependimentozinho tão dolorido... Ela bem que me pareceu interessante... Tão destemida, tão charmosa... E, que belíssimo trazeiro!

Próxima vez que aparecer por aqui outra incauta aventureira, e, se tiver tão tentadores predicados... Acho que mudarei essa minha dieta! Será bem mais divertido “degustar” vítima tão trigueira em minha milenar alcova... Hehehe... Ai, ai... Que lindo par de coxas e que apetitosa boca doida de marasquino!!!... Aff!

Tá decidido!!! Chega de “desperdício”!!!... Tsc... Tsc..

Bem feito pra mim!... Preciso parar de ser assim tão abstêmia e pudica. Ora, ora... Além de perder tão “deliciosa” companhia, ainda por luxo, vou engordar uns quilinhos... Humpf!

Mto ingrata esta profissão de esfinge!... Ninguém merece!

Próxima vez eu juro que o enigma será:

“Decifra-me, que te degusto inteira!”

Daí... Dou uma de doida, monto pirâmide pra moça, encomendo perfumes, lingerie sexy e especiarias do Cairo, sais de banho do Oriente.... Humm, quem sabe até aqueles artefatos eróticos que tanto ouvi falar... Dou um Look no visual que to mesmo precisando (o meu 'Enigma continua o mesmo', mas, os meus cabelos...! Estão péssimos com toda essa areia e vento do deserto, arguiiii, que descuidooo! ) e depois... Hummm... Ora!

__Bah...!  Que seja lá o que Nefertite quiser!


O ÁBACO DO BEIJO


O ÁBACO DO BEIJO

Quando eu chorei foi tão alto e tão sincero que minha toda alma chorou inteira por mim - e, eu chorava gritando tanto desencanto, desilusão... que jamais serei capaz de esquecer estes soluços e o gosto de fel e mágoa destas lágrimas banalíssimas....

Chorei desmoronando e tentando entender tanto engano cometido e... O que me vinha era apenas ‘in-sustentação’, vulnerabilidade...

Fiquei verde, azul, vermelha, roxa... Fiquei até o fundo de mim infeliz e minha feminilidade também chorou lágrimas de abandono, de desmerecimento, de deslealdade!

Minha alma dançava como dervixes hidrófobos e meus pensamentos se entrechocavam com as lembranças mais sinceras desta minha vida toda – que de tão tola, quase absolutamente feliz, fui!

Nada fazia sentido a não ser o que já não era mais absoluto e nem bonito - CATARSE!

Em um segundo... Arrastei, ah... eu nada entendia sobre as mãos que se dão e que, ao mesmo tempo, nos arrancam e devoram os dedos

Tanta tristeza e decepção, desapontamento... Minha alma dava tantas voltas como se meu estômago estivesse cheio de borboletas mortas, flores vermelhas vazias, pétalas para sempre secas... Meu centro magnético era um caos de bússolas avariadas, astrolábios desconfigurados, faróis apagados – desalento

Beijos partidos para nunca mais!

Era tanto... Ondas imensas,

Abissais

E eu caindo...

Ventos boreais portentosos

Eu caindo, eu caindo...

Um gosto amargo de mentira sincera na boca

Eu caído, caindo... caindo...

De tristeza

Caindo...